EXTENSÃO:
CONHECIMENTO ALÉM DOS MUROS DA UNIVERSIDADE
1 DEDC XV/Universidade do
Estado da Bahia , 45400-000, Valença-Bahia, Brasil
Email: dianacunhauneb@gmail.com
2 DEDC XV/ Universidade do
Estado da Bahia, 45400-000, Valença-Bahia,Brasil
³ DEDC
XV/ Universidade do Estado da Bahia, 45400-000, Valença-Bahia,Brasil
Email: millecaroline@hotmail.com
RESUMO
Este trabalho tem
como objetivo apresentar as atividades desenvolvidas pelo curso de extensão em
Formação docente para professores de comunidades quilombolas e de terreiro como
valorização da diversidade
cultural das populações de arkhé
africana, que muitas vezes foram/são esquecidos ou invisibilizados perante a
sociedade. Assim, promover discussões acerca de algumas temáticas das
populações negras é uma maneira de fortalecer a identidade de seus descendentes
e multiplicar conhecimentos. Esse projeto
de extensão possibilita a produção e expansão de novos conhecimentos, contribuindo
positivamente para formação e identificação do profissional com a área de
atuação e com seu empoderamento como descendente de uma cultura milenar dos
povos negros. Compreendemos que o projeto desenvolvido nessa instituição tem como
proposta estreitar a relação entre aluno, universidade e comunidades, através
de interação e compartilhamento de experiências com espaços de luta, arte e
resistência a exemplo de quilombos e terreiros de candomblé.
Palavras-chave:
Extensão. Universidade. Experiência.
1 INTRODUÇÃO
Este presente relato foi elaborado a partir das nossas
vivências no projeto de extensão, intitulado: ENSINO DE HISTÓRIA E CULTURA
AFRICANO-BRASILEIRA PARA DOCENTES QUILOMBOLAS E DE COMUNIDADES TERREIRO. Um curso que nasce a partir de um
desdobramento do Grupo de Estudos em Educação, Diversidade Cultural e
Patrimônio Material e Imaterial do Recôncavo e Baixo-Sul da Bahia “RECÔNVESUL”,
tendo como criadora e coordenadora Prof.ª Ma. Mille Caroline Rodrigues
Fernandes. Este projeto que tem como objetivo empoderar os docentes que já
trabalham em escolas de comunidades quilombolas e de comunidades terreiro, bem
como fortalecer a autoestima das crianças e jovens que fazem parte de
comunidades tradicionais. Destacamos que no baixo sul baiano, encontramos
comunidade-terreiros, de nação Angola, a exemplo do terreiro do Caxuté, que
possui uma experiência inovadora de educação escolar dentro do terreiro. O
departamento de educação da UNEB/Campus XV, situado na cidade de Valença, um território
com grande potencial cultural de arkhé africana
e indígena, através do curso de extensão, vem nos proporcionando significantes
momentos, os quais tem contribuído para nossa formação acadêmica e para nossas
práticas cotidianas e profissionais. Além de desenvolvermos atividades técnicas
como: organizar materiais, entrar em contato e prestar informações aos membros
participantes do curso, podemos ter contato com diversos teóricos que discutem
sobre a situação da população negra no Brasil e nas comunidades quilombolas. Para
nós, a possibilidade de participar das discussões destas temáticas apresentadas
nas aulas do projeto, abrimos um leque de possibilidades para as nossas futuras
pesquisas e para a nossa formação docente ao lado de colegas de semestres
diferentes, professores, coordenadores, mestres e doutores, dessa e de outras
instituições, com experiências e visões semelhantes ou diferentes das nossas. Ao
discorrer sobre nossa experiência na participação do curso de extensão acima
citado, temos como objetivo ressaltar a importância do projeto na instituição e
a possibilidade que este traz de multiplicar o conhecimento e transformar
pensamentos. Valorizar o cotidiano pedagógico e discutir a importância
que as práticas de ensino têm na formação docente, pode despertar nos professores,
a vontade de refletir sobre os seus percursos profissionais, sobre a forma como
percebem a articulação entre o profissional e o pessoal, sobre a forma como
foram evoluíram ao longo da sua carreira, possibilitando que, aos poucos,
possam construir sua identidade através dessas experiências.
Experiência
e vivencia
Ao iniciarmos na monitoria fomos acompanhando o
processo de divulgação do projeto, juntamente com o coordenador de TI, (tecnologia da Informação)
participamos da construção do blog e em seguida a página do facebook e o
grupo do whatsapp, meios que tornam possível nossa comunicação, e, fomos nos
engajando na preparação junto à coordenadora para darmos início ao curso. Desde
então, recebemos documentações necessárias e acompanhamos as inscrições dos
docentes interessados e organizamos as pastas com os documentos dos cursistas.
Logo após organizarmos as pastas com cronograma do curso, folhas para anotações
e canetas que foram entregues aos cursistas no primeiro dia de aula. Ao longo
do curso é dado todo apoio tecnológico em sala de aula, logístico e
fornecimento de refeições para os palestrantes e professor formador. O curso foi dividido em três módulos, oficinas e
palestra a cada módulo se tinha uma gama de componente que nos trazia diversas
reflexões em relação ao tema.
Iniciamos os encontros com a palestra de
abertura, nomeado "Lo
Pedagógico Y Lo Descolonial: una apuesta inmediata", ministrada pelo professor Me. Francisco
Ramallo, da Universidade Nacional de Mar Del Plata/Argentina.
A cada encontro uma nova discussão e uma ampla
gama de aprendizado, tivemos a oportunidade de aprender com professores da rede
básica de ensino do município, de terreiros, quilombos e professores mestres e
doutores que vinham ministrar a aula; além disso, nos sentimos à vontade para compartilhar
e participar das aulas, pois as relações vão além da sala de aula. Após cada
encontro é possível conversar com professores e doutores de forma tranquila,
compartilhando diversas opiniões, adquirindo conhecimentos proveitosos,
deixando de lado a impressão de que o professor-doutor é o “bicho-papão”, desta
forma, somos protagonistas
do conhecimento e não apenas telespectadores.
Entender a extensão
como parte da formação acadêmica é compreender a interação entre a sala de aula
e a universidade, porque os projetos de extensão nos proporcionam um
estudo e leituras de mundo já que o mesmo, sendo ele de extensão ou pesquisa,
tem como instrumentos leituras e ações as quais são desenvolvidas pelo aluno e
professores em comunhão. Portanto, segundo o Art. 55 do Estatuto da UNEB diz que a
extensão será entendida como:
I - Interação da Universidade
com a sociedade; II - promoção e estímulo às atividades culturais nos
Departamentos; III - socialização do conhecimento acadêmico; e, IV - presença
da Universidade no contexto histórico da sociedade, propiciando o exercício
permanente da cidadania. (Estatuto 2012, pag.26).
E mais no Art. 56:
A extensão será desenvolvida
pelos Departamentos, Órgãos Suplementares de Natureza Interdisciplinar e,
eventualmente, pelos Órgãos de Apoio Acadêmico-Administrativo, em articulação
com a Pró-Reitoria de Extensão (PROEX), atendendo às diretrizes gerais traçadas
pelo CONSU, ouvido o CONSEPE. (Estatuto 2012, pag.26).
Sabendo que a extensão vai além da sala de aula
buscando sempre interagir com os diversos espaços, já que este possibilita a
socialização do conhecimento entre a academia e a comunidade, pensar extensão é
também falar do exercício da cidadania, do convívio do estude e saída deste da zona
de conforto que é a sala de aula para fazer-se presente na sociedade, como bem propõe
o projeto de extensão “ENSINO DE HISTÓRIA E CULTURA AFRICANO-BRASILEIRA
PARA DOCENTES QUILOMBOLAS E DE COMUNIDADES TERREIRO”, buscando sempre dialogar com a escola
municipal, o terreiro, o quilombo e a universidade.
Relação
Entre Projeto e Academia
Como universitárias graduandas em Pedagogia,
apresentaremos neste tópico a relação entre o projeto de extensão e a nossa
vida acadêmica já que está entrelaçado em um mesmo objetivo: viabilizar o
conhecimento.
Dentro da universidade muitas vezes discursos
discriminatórios são lançados contra a população negra referentes a diversos
contextos, tais como as relações étnicas raciais. Assim alguns membros da
academia se aproveitam da pouca falta de informação da população para
disseminar suas maldades. Como relata Moore (2007), em Racismo & Sociedade, “O carrasco mata sempre duas vezes, a
segunda pelo silêncio”. Esta frase poderia bem ilustrar e caracterizar as
mentiras, inverdades, coisas não ditas e silenciadas em torno das populações de
descendência africana e do racismo que as perseguem na sociedade brasileira. A
partir do projeto nos debruçamos em um conteúdo que nos propôs um conhecimento
a cerca da interpretação de raças e da discriminação, desta forma, nos levou a desconstruir
os discursos trazidos por alguns autores trabalhados em sala aula, que reforçam
o racismo, apregoando uma falsa democracia racial e que as politicas públicas vêm
para intensificar a desigualdade. Com o curso de extensão temos acompanhando a
discussão de que:
[...] Ao contrário de algumas
obras manipuladoras da opinião do cidadão brasileiro que circulam recentemente,
nasce com a intenção de revelar e ensinar coisas nunca ditas entre “nós” sobre
as origens mais profundas do racismo da história da Humanidade, visando a
esclarecer nossas opiniões e consciências deturpadas por uma literatura e um
discurso produzidos a partir da torre de marfim da academia e da imprensa,
vista como símbolo da competência e da verdade. (MOORE, 2007. p.17).
Durante
muitos anos fomos manipulados pelo conhecimento e opinião do “outro” sobre racismo
e por muitas vezes desacreditando em sua existência considerávamos naturais às
piadas que eram dirigidas ao negro, às comunidades quilombolas e aos terreiros;
a partir deste curso de extensão começamos a perceber que como a falta de
conhecimento e de leitura podem nos conduzir ao racismo na sua forma mais
cruel.
Conclusão
Portanto falar de extensão é pensar uma educação
fora dos muros da universidade, no qual tanto o aluno quanto o professor e
comunidade estão partilhando e (re)construindo novos saberes. Além disso,
contribuindo para o desenvolvimento das relações entre a comunidade acadêmica e
a sociedade.
Referência:
MOORE, CARLOS em RACISMO & SOCIEDADE: novas bases epistemológicas para o
racismo. – Belo Horizonte: Mazza Edições, 2007. 320 p.
UNIVERSIDADE
DO ESTADO DA BAHIA (UNEB)
Disponível em <http://www.uneb.br/files/2009/10/Estatuto-UNEB-2012.pdf>.
Acesso em 23 de julho de 2016.